Ilustração para revista Umbigo.
O riso televisual como crítica ao sistema da arte, de José Pardal Pina
Ilustração para a edição Bertrand Editora Bestiário de Kafka
(I) Jardim Botânico Lisboa - Carvão vegetal - 5 de dezembro de 2015
(I) Mata - Carvão vegetal - 18 de novembro de 2015

[…] Sublinhe-se que o desenho é, desde pelo menos Altamira, um meio que reflete uma forma de pensar. […] Conjecturamos que num processo que tenha sido interiorizado (memorizado), e que se tente aplicar noutras experiências análogas, permitirá que a emoção e os sentimentos que estiveram associados a esse processo emirjam com maior facilidade e, por consequência, também a criatividade fluirá melhor. Os processos que interiorizámos vão-nos facultar uma facilidade de agir sobre uma situação sem termos de refletir sobre o desenho. O desenho tenderá, cada vez mais, para a abordagem global e simultânea – principalmente na evolução da aprendizagem. […] O desenho de síntese só é possível depois de uma laboriosa aprendizagem. […]

[…] Acreditamos que o acto de desenhar é incompatível com o pensamento verbal, isto é, a acção de desenhar exige uma concentração total no gesto construtivo. A atenção dirige-se exclusivamente para a forma e segundo sensações. […] Logo no desenho de imaginação, ou no de observação, o pensamento não se ausenta. Mais própriamente, o processo mental do desenho é pensamento. […] Ou seja, trata-se de apresentar uma conjectura acerca da necessidade de concentração, alegando que o mental e o físico se coadunam num acto de criação.

[…] O desenho pode constituir um desafio para o desenhador-autor, sempre que este não se limite à mecanização ou sempre que não se oriente segundo metodologias desajustadas, mas, pelo contrário, sempre que se introduza no processo de forma critica e construtiva. O processo é uma mediação entre a realidade vista (a nossa percepção dessa realidade), os instrumentos com que desenhamos, a tradução do tridimensional em bidimensional e a nossa capacidade para fazer a analogia entre o registo da realidade e a própria realidade. Mas acima de tudo o que medeia é a nossa intenção, a nossa capacidade de a conseguir traduzir através do processo técnico de que o desenho depende, associando o mental ao físico. […]

[…] A realização de um desenho nunca segue o mesmo processo. O processamento é sempre improvisado, pois as circunstâncias de adaptação ao meio não são estanques. Cada situação espoleta uma solução e uma reacção adaptada ao estado emocional do autor. A imprevisibilidade dá ao desenho essa componente de constante transformação mental, em contraposição à sua crise de transformação em que o indivíduo procura um sentido, diluindo a inquietação (maior ou menor) que lhe tenha provocado a necessidade de se reajustar ao momento. […]

[…] O desenho pode ser uma forma universal de comunicar, mas pode também ser uma prova de que existem diferentes formas de ver. […] Hoje em dia a disciplina da racionalidade, de uma forma geral, não se sobrepõe à fluência da intuição criativa. […]

[…] Um desenho não é uma obra fechada; sê-lo-ia se só traduzisse exactamente a realidade interna ou se só traduzisse a realidade externa. Sublinhe-se uma não existe sem a outra. Presumimos que nunca teremos uma ideia cabal da nossa realidade interna, uma vez que ela é o objecto constante, mais ou menos consciente, da nossa procura na vida. Por outro lado, para quê traduzir a realidade externa, se isso não significar um meio para vislumbrar a nossa realidade interna? Desenhar, nessa medida, não pode ser reprodução fotográfica; quer ser a manipulação dos instrumentos e dos elementos de representação à medida das nossas necessidades internas, à medida da nossa necessidade de aproximação à realidade externa. […]

In Desenho, criação e consciência de Luís Filipe S. P. Rodrigues (capítulo: A realidade e as especificidades do desenho)
Passeio Botânico - Cabo Espichel - 22 março 2015
(III) O Herbário, 2015

Workshop de Ilustração Infantil no MUHNAC - O Herbário

Elaborar um álbum ilustrado, da capa à contracapa, tendo como ponto de partida uma visita-guiada
ao Herbário do Museu Nacional de História Natural e da Ciência.
Objectivo: explorar o objeto álbum, passando pelo conceito/ideia, desenvolvimento da história,
escolha da técnica, do formato, da paleta de cores e dos materiais, composição das páginas e acabamento.
Professora: Yara Kono
(II) O Herbário, 2015
(I) O Herbário, 2015

[…] O que permite que o desenho adquira uma identidade é a sua afirmação contra a inexistência de uma forma e a sua afirmação como identidade única, na medida em que é resultado de um momento único e irrepetível, ao contrário do que acontece com a reprodução fotográfica ou com recursso a computador.
A linha (de contorno) é o registo de uma experiência que decorreu num determinado tempo, representando o movimento que a nossa mente ordenou num momento irrepetível, defenindo um espaço através da sua delimitação. No entanto, na observação de um objeto volumétrico, a linha existe ao nível abstrato e a sua representação traduz (convencionalmente) a definição e delimitação de um espaço. Pode dizer-se que Desenhar resulta, necessáriamente, da construção de um pensamento. […]

In Desenho, criação e consciência de Luís Filipe S. P. Rodrigues (capítulo: A realidade e as especificidades do desenho)
Desenhos rápidos - Cabo Verde 2014/2015
Grafite e lápis de cor sobre fundos a óleo.
Guache e lápis de cor, 2014
Grafite, 2014
[…] Na relação do desenhador com o que observa (seja a realidade com que se confronta, seja o desenho que produz, e que também se inclui nessa realidade com que a sua percepção se confronta), o sujeito é desafiado a procurar um sentido lógico de acordo com a sua história pessoal, onde se incluem as estruturas da personalidade, emoções, sentimentos, cultura, nível de estudos, valores necessidades, interesses, etc. Por isso podemos vislumbrar uma aproximação à ideia de que o autor do desenho, com o intuito de obedecer às necessidades e aos interesses que são produto da sua experiência, e que de tudo isso resulta um maior conhecimento de si próprio. […] O desenho tem que fazer sentido para o autor. Essa lógica pode passar pela necessidade de o desenho corresponder a uma certa ideia da realidade observada, ou pela necessidade de idealizar essa realidade, até à necessidade de reestruturar essa realidade ou de criar outras realidades até mais elaboradas. […]

In Desenho, criação e consciência de Luís Filipe S. P. Rodrigues (capítulo: A realidade e as especificidades do desenho)
Óleo e terbentina, 2014
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